Dislexia
Presentemente, existem várias definições para a esta problemática, de entre as quais se destaca a definição apresentada no sítio da Associação Internacional de Dislexia, definição esta que também é utilizada pelo National Institute of Child Health and Human Development (NICHD):
"It is characterized by difficulties with accurate and / or fluent word recognition and by poor spelling and decoding abilities. These difficulties typically result from a deficit in the phonological component of language that is often unexpected in relation to other cognitive abilities and the provision of effective classroom instruction. Secondary consequences may include problems in reading comprehension and reduced reading experience that can impede growth of vocabulary and background knowledge."
Esta dificuldade em ler e escrever tem sido muitas vezes erradamente interpretada, como um sinal de baixa capacidade intelectual. Muito pelo contrário, muitas crianças disléxicas poderão conseguir em certas áreas e em certos momentos da sua atividade, uma performance superior à média do seu grupo etário.
Em relação aos critérios de diagnóstico, as crianças com dislexia já apresentam um conjunto de sinais de alerta durante a infância (dada a natureza desenvolvimental da Dislexia) contudo, um diagnóstico definitivo só deve ser efetuado quando a criança entra para a escola e inicia a aprendizagem da leitura e escrita. Alguns autores defendem que esse diagnóstico só deveria ser efetuado dois anos após entrada para a escola, pois dificuldades na fase inicial da leitura e escrita anteriores a estas idades são banais pela sua frequência. Apesar do diagnóstico definitivo ter que esperar, a intervenção deverá ser iniciada o mais precocemente possível.
Para chegar a um diagnóstico, deve-se verificar se na história familiar existem casos de dislexia ou de dificuldades de aprendizagem e se na história desenvolvimental, médica e escolar do estudante ocorreu alguma problemática que possa estar a justificar tais dificuldades. A dislexia resulta de alterações neurobiológicas na forma como o cérebro processa a informação linguística e que se manifesta por alterações no domínio do processamento fonológico e noutros domínios psicolinguísticos e neuropsicológicos que conduz a um conjunto significativo de alterações na leitura e escrita.
Existe um conjunto de manifestações da dislexia nas competências de leitura e escrita, no entanto, não é necessário que estejam presentes todos estes indicadores em simultâneo, para que seja diagnosticada um caso de dislexia. Estes indicadores devem apenas alertar para a possibilidade de um possível caso de dislexia, já que é preciso compreender a razão destes comportamentos. São eles:
. atraso na aquisição e automatização das competências da leitura e escrita;
. acentuada dificuldade ao nível do processamento fonológico: consciência, codificação e nomeação;
. velocidade de leitura bastante lenta para a idade e para o nível escolar;
. dificuldade na leitura de palavras regulares, irregulares e pseudopalavras;
. dificuldades na memória verbal e na memória de trabalho;
. leitura silabada, decifratória, hesitante e com bastantes incorreções;
. omissão ou adição de letras e sílabas (ex: famosa-fama; casaco-casa; livro-livo; batata-bata; biblioteca/bioteca; ...).
. confusão e dificuldades na descodificação de letras ou sílabas (o-u; p-t; b-v; s-ss-ç; s-z; f-t; m-n; f-v; g-j; ch-x; x-z-j; nh-lh-ch; ão-am; ão-ou; ou-on; au-ao; ai-ia; per-pre; …);
. confusão entre letras com grafia similar, mas com diferente orientação no espaço (b-d; d-p; b-q; d-q; n-u, a-e;…);
. substituição de palavras por outras de estrutura similar durante a leitura, porém com significado diferente (saltou-salvou; cúbico-bicudo;...) e/ou substituição de palavras inteiras por outras semanticamente vizinhas (cão-gato; bonito-lindo; carro-automóvel);
. dificuldades na compreensão semântica e na análise compreensiva de textos lidos (devido à sua deficiente leitura);
. ocorrência de muitos erros ortográficos: erros fonológicos e erros nas palavras grafo-fonémicas irregulares. Na escrita podem surgir palavras unidas ou separadas, repetição de letras ou de sílabas, colocação de letras ou de sílabas antes ou depois do lugar correto;
. dificuldades em exprimir as suas ideias e pensamentos em palavras, na escrita e na organização das ideias num texto;
. qualidade da grafia poderá ser deficitária: letra rasurada, disforme e irregular.
Alguns estudos documentam, de forma consistente, que a dislexia está algumas vezes associada a outras perturbações có-morbidas (presença de 2 ou mais diagnósticos diferentes), de entre as mais frequentes destaca-se:
- A disortografia - perturbação que afeta as aptidões da escrita, e que se traduz por dificuldades persistentes e recorrentes na capacidade da criança em compor textos escritos. As dificuldades centram-se na: organização, estruturação e composição de textos escritos sendo a construção frásica pobre e geralmente curta; presença de múltiplos erros ortográficos; e má qualidade gráfica. É possível haver uma disortografia sem que esteja presente uma dislexia.
- A disgrafia - perturbação de tipo funcional na componente motora do ato de escrever, que afeta a qualidade da escrita, sendo caracterizada por uma dificuldade na grafia, no traçado e na forma das letras, surgindo estas de forma irregular e disforme.
- A discalculia – é uma perturbação estrutural da capacidade matemática e da simbolização dos números, é de carácter desenvolvimental e caracteriza-se por dificuldades específicas da aprendizagem que afetam a normal aquisição das competências aritméticas, apesar de uma inteligência normal, estabilidade emocional, oportunidades académicas e motivação.
- A hiperatividade - Perturbação do Comportamento de base genética, em que estão implicados diversos fatores neurológicos e neuropsicológicos, que provocam na criança alterações atencionais, impulsividade e uma grande atividade motora, ocorrendo mais frequentemente e de um modo mais severo do que o tipicamente observado noutras pessoas.